sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Reunião

Reunião de pais, professores, funcionários e alunos:

Já que a APMF se recusa a convocar uma reunião para tratarmos de assuntos de interesse da comunidade escolar do CEP, estamos convocando todos os interessados para um encontro no dia 30/11/2007, a partir das 19h, na sede da APP Sindicato, 14º andar, Edifício ASA, praça Osório.

Carta de Ramiel, aluno

Curitiba, Paraná, 23/11/2007

Olá para todos, Sou aluno do Colégio Estadual do Paraná - CEP, em Curitiba, maior colégio do estado e um dos maiores do Brasil, com aproximadamente 5.000 alunos e 161 anos de história, sendo o colégio mais antigo do Paraná.A importância do CEP nos âmbitos municipais, estaduais e até nacionais é inquestionável, já que importantes figuras de nossa sociedade, como atores, políticos, empresários e educadores passaram pelos bancos desta escola.O motivo que me faz escrever esta carta, é tornar publico a todos que ainda não estão por dentro ou não entendem a situação absurda em que alunos, pais, professores e funcionários desta instituição de ensino vem passando neste último ano. E lógico, mostrar minha própria indignação.O CEP é a única escola pública de todo o estado do Paraná que não possui eleições diretas para o cargo de diretor-geral, neste caso, é o governador do estado que escolher o diretor da escola. Vale lembrar, que este sistema vigora desde a época da ditadura militar, quando foi aprovada a lei que estabelece até hoje tal situação. Sempre ocorreram protestos e movimentos pró-democracia na escola, mas não surtiam muito efeito, pois os diretores realizam administrações razoáveis, que conduziam o colégio de forma democrática e respeitando projetos pedagógicos coerentes. Situação que não ocorre neste ano de 2007.No início deste ano, entre os meses de fevereiro/março, o governador do estado, Roberto Requião, decretou como nova diretora do CEP, a profª Maria Madselva Ferreira Feiges, grande educadora e pedagoga da Universidade Federal do Paraná - UFPR, com carreira educacional e ideais pedagógicos elogiados e reconhecidos por toda sociedade. Junto a ela, criou-se uma esperança de que a escola passaria por novos tempos, e realmente passou, mas completamente diferente do que esperávamos. Eu inclusive era um dos mais alegres com a nova direção.Depois que assumiu, a diretora Madselva começou a implementar sua nova política de ensino, mudando o sistema de avaliação drasticamente.

De início, os professores (todos do mais alto nível educacional) começaram a questionar algumas medidas pedagógicas da atual direção, e sugerindo novas propostas, já que numa escola onde temos mais de 200 professores e 5000 alunos, não se dá para mudar as coisas de uma hora pra outra. Aparentemente, ela iria escutar as sugestões e reclamações, e levá-las em conta. Não foi o que aconteceu. Ao passar do tempo, sem respostas sobre seus questionamentos, os professores se reuniram e pediram esclarecimentos, e a direção, sem se manifestar... O impasse começava a surgir a nível dos professores.Entre os funcionários, vários deles foram humilhados pela diretora, alegando ela que eles não eram competentes, não trabalhavam direito. As inspetoras de corredor foram afastadas de seus lugares e colocadas na limpeza, o que ocasionou uma falta de organização onde alunos permaneciam nos corredores e inclusive atrapalhando as outras turmas e interrompendo aulas. Entre pais e alunos, o descontentamento pela falta de comunicação e acesso a diretora, a falta de reuniões, a falta de respostas a seus questionamentos, a confusão no sistema avaliativo e plano pedagógico da direção. O descontentamento estava presente na maior parte da comunidade escolar: alunos, pais, professores e funcionários.Em meados de setembro/outubro, professores, funcionários, pais e alunos, elaboraram uma Carta-denúncia sobre a situação no colégio e encaminharam ao secretário da educação, Mauricio Requião, irmão do governador. Na ocasião, foi prometido atenção especial a denúncia. Mas não tivemos resposta. No dia 05 de novembro, ao realizar visita ao colégio, os alunos e alguns professores, abordaram o secretário e lhe entregaram novamente outra cópia da carta-denúncia.O clima estava cada vez mais tenso no colégio, o descontentamento com a direção geral fez todos pensarem sobre a administração dela e repensarem ainda mais a falta de democracia na eleição de diretor do maior colégio do estado.

No dia seguinte, terça-feira 06/11, no intervalo do turno da manhã, seria realizada a entrega do prêmio da rifa de formatura na arena central do colégio. Quando a diretora-geral apareceu na arena para a entrega do prêmio (o que é muito raro de acontecer) alguns alunos começaram a questioná-la ali mesmo sobre seu plano pedagógico, sobre a perseguição de professores e a falta de valorização dos mesmos, entre outros assuntos. Os alunos clamavam por resposta a muito tempo, e não dava mais pra esperar. Nisso, ela falou que se quisessem poderiam ir sozinhos até a sala dela e conversar a respeito. Os alunos se negaram, pois achavam que TODOS os alunos são iguais e mereciam naquele momento um diálogo e respostas. A diretora se recusou a dar respostas e disse que não iria se rebaixar ao nível deles.Os alunos se revoltaram, se mobilizaram, e de repente eclodiu o movimento dos alunos, que não voltaram para as salas e foram para a frente da escola, em pleno Centro da capital do estado, protestar em prol de uma escola mais democrática. Professores e alunos juntos, em prol de um mesmo ideal. A direção se manifestou dando como única alternativa reunir de três em três turmas, em uma sala, pra conversar, os alunos protestaram, queriam todos ao mesmo tempo no auditório. A direção fechou a janela por onde estava falando no microfone e nos deixou sem alternativa... Aceitamos.No dia seguinte, quarta-feira 7/11, a primeira reunião, com as primeiras 3 turmas, perdurou por mais de 3 horas. Quando o resto da escola seria ouvido? São 47 turmas! Quando todos iriam ser ouvidos? Então no intervalo os alunos ameaçaram nao subir pras salas caso ela não descesse lá entre os alunos e não falasse com todos. Ela aceitou, desceu e falou, mas falou muito, mas nenhuma resposta concreta foi dada, éramos feitos de bobo mais uma vez. Os protestos continuaram... e o inesperado aconteceu. A Polícia Militar chegou, e de forma inaceitável prendeu um aluno da escola, menor de idade, sem ter motivo algum para tal feito. O aluno inclusive foi algemado, colocado no camburão, e agredido verbalmente e fisicamente por parte dos policias, dentro da própria escola e na delegacia.
O clima está cada vez mais tenso. O Governo do Estado, através da Secretaria de Educação , encara o movimento como uma simples revolta de alunos baderneiros e "moleques" como o próprio secretário nos chamou, que são influenciados por professores descontentes porque têm de assinar livro-ponto. Inclusive professores que nos representavam na Comissao de Negociação foram afastados. Um aluno foi preso a um tempo atrás... percebem a situação?O governo alega que não tem motivo jurídico plausível para retirar a Profª Madselva do cargo, afinal ela não roubou nada, e não tem interesse nenhum no momento em eleições no colégio. Onde fica a educação e a democracia? Humilhar e perseguir professores, deixar prender alunos e não fazer nada, desestabilizar completamente o ambiente de ensino no maior e mais tradicional colégio do estado, isso não é um motivo plausível para mudar a direção? Será que isso não importa?Agora podem me perguntar, porque "ditadura"?Professores, pais, alunos, estão alguns com telefones grampeados, alunos já sofreram ameças de prisão por parte de policiais, professores já foram ameaçados de morte, porque pensam diferente do que a direção e o governo pensam. Não há liberdade de expressão, como a própria diretora já afirmou em off... Direção ameaçando não liberar documentação para quem passar no vestibular, Governo diminuindo nossos motivos para ter razão, promotor de Ministério Público estranhamente mandando cartas as pressas para todos os pais do colégio enaltecendo a pessoa da Profª Madselva e alegando guerra política, sem fundamento, e recomendando aos pais que façam seus filhos ficaram nas salas e não protestarem, a Televisão Paraná Educativa, tv estatal, modificando os fatos e passando informação distorcida... inclusive a diretora chamou os professores de mentirosos e dramáticos demais em rede estadual na Tv Paraná Educativa.Isso não vos lembra alguma coisa senhores?

Fica aqui registrada a indignação de um aluno, mas antes de mais nada brasileiro, que vê seus direitos sendo negados, vê uma manipulação e uma distorção do que está acontecendo, vê seus professores sofrendo e no limite, vê seus amigos colegas sofrendo e com medo, vê os pais lutando e indignados, vê tudo o que não queria ver, e não vê o que mais queria: vontade política do governo que deveria representar a vontade geral do povo e não o faz.

Ramiel Duarte da Silva.

- Aluno e brasileiro que toma coragem para deixar a público sua opinião mesmo sabendo que corre sérios riscos a sua integridade moral e física depois disso

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Carta de um aluno para os professores de Sociologia

Carta de um aluno
Para os professores de Sociologia
.

Começo esta carta, dizendo que não sou contra a opinião dos outros, principalmente quando estes são denominados “MESTRES” pela sociedade e pelos tão importantes alunos.

Em sua carta, informam que cabe à Sociologia, como forma de instrumento, o trabalho de analisar e explicar o que tem ocorrido nos nossos atuais e estressantes tempos, porém, se os senhores se mostram tão POLITIZADOS e ANALISADORES dos ocorridos, devemos repensar em alguns quesitos, os quais, foram utilizados para defender sua tese de que a direção está certa ou não, na carta dirigida a TODOS do Colégio Estadual do Paraná.

Os senhores informam que são taxados de “esquerdas” por vários companheiros de serviço, tanto como de pessoas que ficam “em cima do muro”, devido uma posição neutra ou até mais abertamente, a favor da professora Madselva. Na verdade, os senhores utilizam-se de motivos muito impróprios, pois neste momento, vemos alunos com ideais esquerdas, direitas, centristas, anarquistas unidos por apenas um ideal. Mostrando que são capazes de deixar suas diferenças de lado e lutar juntos.

O ideal do Movimento, não é de um lado ou de outro em relação à politização, nem por um projeto conservador, mas por um direito que é de todos: Educação com qualidade e dignidade!

Já mostramos para toda uma sociedade Paranaense (taxada como a mais critica e fechada), que não somos uma turva utilizada como “massa de manobra” (termo que ultimamente tem sido muito utilizado por vocês, para nos denominar), mas que somos um grupo muito bem organizado, seguro do que tem feito e consciente das nossas paralisações.

Contrariando o que é dito na carta, NÃO EXISTE UMA DISPUTA DE INTERESSES NO CEP. Tanto é que nenhum aluno saiu correndo e entrou em outra sala e AMEAÇOU a todos para que saíssem gritando pelos corredores o famoso “fora Madselva!”. Nem nenhum professor “tomou as dores” e se declarou o organizador do movimento (o qual é organizado entre e pelos alunos, sem influência de qualquer mestre, mesmo sendo um dos que mais tenha afinidade com os estudantes ou não), dizendo que “criou isso, por que está cansado da direção geral”. Não, pelo contrário, eles acham que deveríamos repensar na paralisação. Porém, NÓS cansamos de não saber “por onde anda o tal do projeto pedagógico da direção atual” ou de ver SERES HUMANOS serem feitos e tratados como ANIMAIS; Seja professor, alunos ou funcionário. Sendo dito a eles que não sabem o que fazem!

Não somos contra um projeto que prepare o jovem para o mercado de trabalho, nem que o prepare para o trabalhoso vestibular. Somos a favor de um projeto que tenha os DOIS SISTEMAS NA MESMA ESCOLA, como SEMPRE FOI FEITO. Exemplifico, mostrando de uma vez por todas, que não existem termos que diferenciem os alunos da grade escolar normal, dos da grade do curso técnico. Nos declaramos, pura e simplesmente: ALUNOS DO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ!

· O bem e o mal

É dado como informação que as pessoas vêem na imagem da professora Malú, a imagem do bem e na da professora Madselva, o mal. Errôneo!

Nunca dissemos, mesmo que ela seja xingada, que alguém a odeia! Porém, o que pudemos ver, é a imagem de um professor que dedicou sua vida para ensinar não e somente sua matéria curricular, mas também à viver! Enquanto do outro lado, vemos uma professora que vem de um local, onde os estudantes já se mostram socialmente mais formados, tentando se enquadrar de forma errônea.

Poucos aqui no CEP conhecem o trabalho da professora Madselva na UFPR, somente os mais apegados à universidade ou os mestres que já tiveram aulas no passado com ela sabem de seus feitos. Aparecem sempre comentários bons e educados sobre seu serviço em tempos anteriores, mas em sua atualidade, é questionada sua forma de ação e como uma pessoa pode mudar sua forma de agir apenas por interesse.

Devemos mesmo lembrar que a Madselva é “nova no pedaço”, mas seria correto em sua gestão, modificar o colégio de forma tão “energética”? E demonstrar uma falsa “superioridade” sobre os funcionários, alguns professores e alunos do CEP?

E não é na imagem de um professor ou de um aluno que segue na frente de todos e diz palavras fervorosas ou intrigantes, nos quais encontraremos nossos heróis, mas faremos isso, dentro de nossas mentes, entendendo que esta imagem de herói ou de pessoa a seguir existe em cada um de nós!

Finalizo minha carta, questionando o final da carta dos senhores.

Por que os senhores não se identificam com o pseudônimo: “PROFESSORES DO CEP”?

Existe uma vergonha ou é o medo de não abranger em suas curtas palavras o ideal dos outros?

Posso neste momento assinar como DIOGO GONÇALVES PILOTO LOPES, mas assino como ALUNO DO CEP, ASSUMIDAMENTE INDIGNADO!

Texto de Rubens Tavares, professor História do CEP

Primavera do Colégio Estadual do Paraná.

O ano de 2007 ficará marcado na memória de todos os estudantes, professores, funcionários e pais e também da comunidade que acompanharam os fatos noticiados quase que diariamente pela imprensa.
Estão todos de parabéns, porque defenderam os seus direitos, suas convicções, suas posições filosóficas e políticas de maneira transparente, sem medo de se expor. Todos devem estar orgulhosos, porque a juventude, que sempre é criticada, se fez ouvir, se organizou, participou, se emocionou. Pois política sem emoção não é política e sim ideologia, e democracia sem participação não é democracia, e sim sua caricatura.
A república, neste país, está por ser construída; a democracia ainda caminha a passos lentos, e o que se deveria olhar com outros olhos, apenas reproduz o quadro de Bruguel: cegos guiando cegos não percebem a grandeza das manifestações, mas apenas querem enquadrá-las no olhar pequeno e rasteiro da baderna, dos agentes ocultos, das forças alienígenas, dos agitadores, reproduzindo discursos que se esperavam enterrados e sempre foram usados por setores mais conservadores. Foucault tem razão: o mesmo discurso tanto pode ser utilizado pela direita como pela esquerda, quando se trata de defender o poder.
Mas há outros que também se acham vitoriosos. A eles, parabéns! Venceram o medo, a imposição, a filmagem e a fotografia escondidas! Parabéns às cartas enviadas aos pais, peças dignas de análise tanto jurídica, quanto conceitual, lembrando os planos Cohen!
Parabéns ao poder estatal, que com toda a sua máquina quer esmagar jovens, enquadrar os diferentes, sempre com o argumento de nos defender, de preservar nosso bem estar!
Parabéns ao “professor” eufórico, que bradou “vencemos!”, quando um ato de violência foi cometido, esquecendo-se de que qualquer ato de violência venha de quem seja, é sempre a perda da força dos argumentos pelos argumentos da força. Parabéns à Direção, que deveria estar defendendo a comunidade e sendo sua porta voz, mas admite, de forma autoritária, a vigilância, a punição de professores e funcionários e a defesa intransigente do poder do Estado.
Parabéns aos que não querem que a sociedade civil se organize e que isso possibilite um novo entendimento na relação entre aparelho estatal e a sociedade civil! Parabéns para aqueles que conseguiram criar um falso confronto entre o Ensino Médio e o Profissionalizante, talvez inspirados no antigo ministro Gustavo Capanema!
Parabéns para aqueles que se deixaram levar pelo rancor, pela raiva, pelo combate sem ética! Parabéns para aqueles que acham que tudo se resume a ter cargos! Parabéns para aqueles que em cada corredor vêem sombras da oposição! Parabéns para os que seguem ordens cegamente! Parabéns para os que se prestam a serem bufões! Parabéns para os pequenos poderes exercidos pelos autoritários!
Parabéns para os que acham que quanto pior melhor, sejam quais forem os “seus lados”! Parabéns para os que acham que suas salas são o centro do mundo! Parabéns para os burocratas, estes sim sempre os mais afoitos a que a ordem seja estabelecida! Parabéns ao pensamento que parou, como diriam os estudantes do maio de 68, pois um pensamento que para é um pensamento que apodrece! Parabéns aos que sempre, no velho discurso do “vou te processar”, esquecem que ele é uma prerrogativa de qualquer estado de direito democrático, mediante a defesa, a acusação e o fornecimento de provas!
Parabéns aos que ensinaram seus alunos a não seguir os seus exemplos! Parabéns a todos que contribuíram para que qualquer ato de “indisciplina” seja visto como um ato sempre contrário à “ordem e aos bons costumes”! Parabéns! Vocês venceram!
Mas essa primavera não exala perfume, esse discurso não merece ser escutado, essas atitudes só serão lembradas quando se falar da resistência ao poder autoritário. Vocês serão lembrados quando se quiserem usar exemplos de como não devem ser os exemplos.
Parabéns, vocês realmente venceram!
Mas vencer, muitas vezes não significa ganhar.
Neste caso, trata-se de uma derrota, pois a vitória é dos estudantes, dos professores, dos funcionários e dos pais que se colocaram contra as medidas arbitrárias, contra o mandonismo, contra a aceitação pacífica de ovelhas, contra o obscurantismo, contra as medidas de exceção, contra as falácias do poder e a favor de suas utopias, de seus sonhos, da consciência, da cidadania, dos valores democráticos, da intransigência na defesa dos princípios fundamentais de um Estado republicano.
Saem todos de cabeça erguida, porque saem por onde entraram. Não precisam sair
pelos fundos e nem protegidos por seguranças, porque estão seguros de seus argumentos e objetivos.
Saem de olhar límpido, não ficaram cegos pelos benefícios do poder, saem de peito aberto, de coração tranqüilo, de sono sem pesadelo, porque não precisam mostrar os seus dentes. Saem de sorriso estampado, pois sabem que “não basta que seja e pura e justa a nossa luta, mas é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”.

Rubens Tavares, professor História do CEP

Depoimento de uma Mãe

QUE LIÇÃO FICARÁ PARA OS NOSSOS FILHOS?


Nunca cursei uma faculdade, mas estou cursando A DA VIDA e o que tenho ouvido na minha faculdade tem me deixado enojada, indignada, sentindo-me um NADA, a olhar e ouvir milhares da minha faculdade sentindo-se humilhados, desrespeitados, caluniados, desvalorizados pelo vandalismo causado ao maior patrimônio que existe: O SER HUMANO.
Todo tipo de vandalismo é abominável, mas o pior é o que os olhos não enxergam, o que destrói por dentro. Este só o tempo para consertar os danos causados.
Mas o que é que nós, simples e “meras coisas” sem vez e nem voz podemos fazer? Nossa faculdade não é reconhecida! A própria história nos conta que homens, mulheres, jovens e crianças que cursaram e cursam apenas a faculdade a que me referi são tratados com indiferença, com desprezo, com desrespeito, sem a mínima consideração.
O que esperar se até milhares de colegas que têm sua faculdade reconhecida são tratados da mesma forma? Somos tratados como “meras coisas” que ficam no caminho de uma minoria (exceto na época das eleições). Nós, os alunos da faculdade não reconhecida, somos a maioria e mesmo eles sendo a minoria querem que baixemos a cabeça e nos calemos, à custa de decretos, leis, normas, mesmo quando muitas delas são injustas e vão contra o bem estar da maioria.
Mas caros colegas de faculdade, séculos se passam, aqui estamos vivendo e presenciando acontecer os mesmos erros históricos: os interesses e a vontade da minoria sempre prevalece.
Se eu fosse formada em Medicina e fizesse um check-up em alguns, constataria que estão muito doentes. Se medisse a pressão, verificaria que está baixa de compromisso com a verdade; ao medir a temperatura, o termômetro registraria mais de 40 graus de egoísmo; se fizesse um eletrocardiograma, suas veias estariam bloqueadas por não abastecer seus corações vazios de respeito. Ortopedicamente, diagnosticaria que não conseguiriam abraçar as pessoas, por ter fraturado os braços, ao tropeçarem na arrogância; diria que têm miopia por enxergarem apenas a própria vontade; como Otorrinolaringologista, diria que estão com a audição bloqueada em decorrência da falta de diálogo.
Queridos colegas de faculdade, se fosse formada em psicologia, gostaria de procurar um por um de vocês para oferecer minha ajuda, pois os danos causados emocionalmente aos nossos Alunos, Filhos, Professores, Funcionários não há dinheiro no mundo que pague a humilhação, a dignidade ferida, o desrespeito com que somos tratados. Eu como mãe e cidadã, pergunto: Será que ainda podemos confiar na justiça humana?
O CEP é um prédio e a instituição só existe porque lá passam pessoas que não podem ser tratadas e descartadas como simples coisas.
Senhoras e Senhores, juízes, promotores, advogados e deputados de bem, eu quero, na minha ignorância do pouco estudo que tenho, pois cursei somente até a 8ª série, mas como uma pessoa temente a Deus, acreditar que entre vós haja aqueles que não deixaram o poder corromper os valores que seus pais lhes passaram, valores que eu sempre passo para os meus filhos. Peço aos senhores SOCORRO em meu nome e em nome de outros alunos e pais. Não é justo que só um lado possa ser ouvido e reprisado duas vezes em um canal público de TV e nós, os maiores interessados e prejudicados em tudo que está havendo, não podermos ser ouvidos também!
Direitos iguais, Senhores! Senão como ficaremos diante de nossos filhos? Que lição eles irão aprender? Que não há igualdade, que não há justiça, que não devemos acreditar em mais nada e em mais ninguém? Que nós, pequenos, somos calados a qualquer preço?

Nada disso teria ocorrido, se no CEP houvesse eleições para a escolha da direção geral. Nós pais, alunos, professores e funcionários comprometidos de verdade com a educação dos nossos filhos e dos outros alunos, já teríamos feito uma eleição e resolvido, no voto, a vontade da maioria, mas ficamos reféns de terceiros para decidirem o que é melhor para os nossos filhos.
Onde fica a democracia diante de tudo isso?
Curitiba, 26 de novembro de 2007

Dirlene Pinheiro (mãe de aluno do 1º ano)

Solicitação de Pronunciamento dos Membros do Conselho Estadual de Educação

Curitiba, 20 de novembro de 2007

Em nome de um número bastante significativo de professores, funcionários, pais e alunos do Colégio Estadual do Paraná, dirigimo-nos respeitosamente a este Conselho, solicitando ajuda para a resolução da crise instalada em nossa escola. Encaminhamos, anexa, documentação protocolada na SEED e no Ministério Público e outros documentos para apreciação e parecer do Colegiado desta importante instância deliberativa, com a maior urgência possível.
Causou-nos muita estranheza o fato de o professor Romeu Gomes Miranda, presidente deste Conselho, participar da mesa de negociações na SEED, no dia 14/11 do corrente, sendo porta voz do pequeno grupo que apóia a professora Maria Madselva Ferreira Feiges, fazendo a entrega de um abaixo-assinado com um cabeçalho que não corresponde à realidade (ver item 11 do documento denúncia). A estranheza se deve ao fato de o professor Romeu, conhecendo tão bem o Colégio Estadual do Paraná, uma vez que foi Chefe da Divisão Educacional, responsável pelo setor pedagógico, de janeiro de 2003 a dezembro de 2005, não ouvir os outros professores antes de definir seu apoio. É importante destacar que os principais encaminhamentos pedagógicos, atualmente tão criticados pela profª Maria Madselva Ferreira Feiges, foram colocados em prática durante o período de gestão pedagógica do prof. Romeu. A estranheza se torna maior ao lembrarmos que o mesmo prof. Romeu Gomes de Miranda, num passado não muito distante, foi um dos mais combativos defensores da classe dos professores e dos princípios democráticos na gestão da educação pública.
O clima de trabalho no Colégio Estadual do Paraná está insustentável. Os professores sentem-se extremamente pressionados pela Direção Geral da escola que não poupa adjetivos depreciativos ao referir-se ao corpo docente. Ontem, 19/11, por exemplo, a profª. Madselva, durante uma entrevista coletiva com a imprensa, afirmou que os Professores do Colégio Estadual do Paraná que afirmam estar sendo pressionados (80% do corpo docente) “são mentirosos, para não dizer outra palavra”. Tem sido cada vez mais comum a manifestação pública da angústia, do choro, do mal estar causado por toda esta situação.
Os pais que apóiam o movimento, apesar de insistentes pedidos à presidente da APMF para convocar uma reunião para tratar do assunto, não são atendidos. Só são bem recebidos na escola quando solicitados a pagar a taxa (“contribuição”) da rematrícula. A APMF tem se envolvido apenas com as questões referentes à formatura e recolhimento de contribuições financeiras, como se pode comprovar pela convocação no site da escola para uma reunião de prestação de contas, para o dia 22/11/2007, às 19h30min. .
Asseguramos que não há nenhum motivo politiqueiro motivando esta mobilização. A única política que nos move é a luta por uma escola pública de qualidade.
Certos de podermos contar com a imparcialidade e a seriedade deste ilibado Conselho, subscrevemo-nos


Atenciosamente,

Ilmo. Sr.
DD. Membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná

Carta de professora para Madselva

Prezada Professora Madselva,

Há algum tempo atrás lhe entreguei uma carta com uma avaliação e sugestões em relação a sua gestão. Não recebi nenhuma resposta formal. Naquele momento ainda acreditava que era possível viabilizar o seu projeto de escola, projeto este que só tomei conhecimento através de nossos coordenadores na área de História, porque infelizmente, ao longo deste ano, não houve discussões pedagógicas. Penso que as condições necessárias para viabilizar o projeto não foram construídas e que hoje ele só poderia se efetivar com atitudes autoritárias, o que seria contraditório e incoerente com uma visão democrática, que é a essência de qualquer projeto. Quando lhe perguntei como vai construir a sua proposta, a senhora disse que a partir das “relações sociais”. Eu pergunto: que relações? Desde o início deste ano sua presença tem sido marcada por tensões. Lembro-me muito bem quando no mês de maio a senhora pediu no Conselho que também queria ser aplaudida. Mas não foi. Por quê? O momento que a vi sendo aplaudida efusivamente pelos alunos, foi na sala 113, no dia 7, quando a senhora pediu desculpas a um aluno depois de um momento tenso. Mas ali já estava difícil recuperar o elo perdido. Enquanto a senhora tentava conversar com mais ou menos 100 alunos, centenas de outros já estavam organizados com uma só palavra de ordem. Vejo que não há mais clima agora e o bom senso mostra que às vezes é necessário recuar para vencer, não medir forças. Contudo, tenha em mente que boas idéias não morrem, mas há de ter o momento certo para implementá-las.
Na sexta feira, dia 9, saí da sua sala junto com a comissão tendo a angústia de vir a olhar nos olhos dos alunos e professores os quais esperavam por uma resposta e que clamavam por um único pedido: “Vamos retornar a paz neste colégio, queremos dar aulas novamente com equilíbrio”. Naquele momento me senti incapaz. Mas ao sair na escadaria encontrei alguns alunos do ano passado que cursam hoje história e pedagogia na UFPR. Lembrei-me mais uma vez que o CEP não é apenas um nome, mas é uma unidade, uma identidade, professores e alunos do CEP tem uma relação de amor com esta escola que permanece após a formatura e as aposentadorias.
Hoje, após os acontecimentos da última semana, quero dizer que vivemos momentos de tensão, de insegurança, de dor, de ver colegas chorando de angústia, mas que também foram momentos de beleza e consciência de cidadania quando nossos alunos fizeram o “retorno à prática social”, como diz Saviani, que eu aprendi através de suas falas em meados da década de 80.
Isto mostra que existe um outro lado que o momento propiciou. Apesar de todo este clima, vi nos alunos do CEP o brilho nos olhos que eu tinha em 1984 quando entrando na Universidade fui para a rua participar das “Diretas Já”, vi a mesma confiança, a esperança e a indignação que moveu os “caras pintadas” em 1992, que eu também estava lá e foi a partir de uma fala sua na APP, que naquela época saí junto com os alunos para a rua. Vi um movimento explodir no CEP, sem o nosso controle, vi alunos que nas minhas aulas raramente se pronunciam pegar em microfone e lhe questionar duramente. Vi o orgulho de abraçar o CEP e dizer para Curitiba “CEP eu te amo”, vi o cuidado com as flores do jardim intactas, vi a emoção e as lágrimas ao cantarem juntos “Pra não dizer que não falei das flores”. A consciência e a cidadania foram despertadas espontaneamente.
Temos que ficar atentos, pois a História nos mostra como começa uma revolta, mas nunca poderemos saber como ela vai terminar. Acredito que as relações são construídas a cada dia e são alimentadas pela positividade e pelo respeito. Aí lhe pergunto: Se a senhora continuar na direção, como vai participar da formatura no dia 18 de Dezembro? Como os alunos irão recebê-la com aplausos ou vaias? Ou a diretora geral do CEP pela primeira vez na história não vai participar deste momento tão importante? Ou mais além, se esta situação se prolongar como vai falar novamente na Universidade, aos professores da rede estadual ou municipal, sobre uma escola democrática se a sua gestão desencadeou uma revolta estudantil sem igual na história do CEP, hoje documentada nos jornais, na internet, e principalmente na memória de todos os que viveram a semana passada. E penso que processos não apagam esta memória
Eu ainda lembro das falas suas que ouvi no Colégio Unidade Polo, no Colégio Guimarães, na APP, na UFPR, na Fazenda Rio Grande, que muito inspiraram a minha prática profissional. Muitas destas falas, hoje, eu repasso às minhas alunas no Curso de Pedagogia. Não esqueço o que cantávamos em 1984: “Nova aurora a cada dia e há de se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto” (Coração de Estudante).
Hoje mais do que nunca acredito que tudo que aprendemos é pelo amor ou é pela dor. Encerro com as palavras de Lao Tse ao descrever o sábio há mais ou menos 600 a.C.
“Aquele que conhece os outros é sábio, aquele que conhece a si mesmo é iluminado
Aquele que vence os outros é forte, aquele que vence a si mesmo é poderoso.
Seja humilde e permanecerás integro, curva-te e permanecerás ereto.
O sábio não se exibe e por isso brilha, ele não se faz notar e por isso é notado
Ele não se elogia e por isso tem mérito.
E por não estar competindo, ninguém no mundo pode competir com ele“.



Atenciosamente,

Professora Cleusa (História) 12/11/2007.

MANIFESTO DE PROFESSORES DO DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR DE UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Após tomar conhecimento pela imprensa de fatos ocorridos no Colégio Estadual do Paraná, e pelos que foram trazidos à Reunião Plenária do Departamento de Administração Escolar do dia 22 de novembro de 2007 a partir da análise do Processo Administrativo número 23075.045471/2007-53, bem como dos informes trazidos pela Professora Sônia Guariza Miranda relativos à reunião ocorrida na APP-Sindicato, na noite de 21 de novembro de 2007, com a diretoria da entidade e parte dos professores do CEP envolvidos com a reivindicação de eleições diretas para a direção do CEP e superação de retaliações perpetradas contra os reivindicantes pela atual gestão do CEP, os professores Gracialino e Sônia compreendem que os acontecimentos no Colégio caracterizam um estado de crise na gestão político-pedagógica e administrativa da instituição de enormes proporções; que essa crise precisa ser superada para que o Colégio como escola pública cumpra efetivamente a sua função social: o ensino e a aprendizagem dos conhecimentos científicos e culturais acumulados pela humanidade, em um ambiente ético democrático e respeitoso; que o CEP deve se caracterizar por um espaço onde se cultive o "pluralismo de idéias e concepções pedagógicas", o "respeito à liberdade e apreço à tolerância", a "valorização do profissional da educação escolar", seja ele pedagogo, docente, técnico ou em quaisquer outras funções dentro da escola, e a "gestão democrática do ensino público", tal como define a Lei 9394/96. Entendem ainda os signatários deste documento que o cumprimento dessas definições legais é incompatível com um ambiente onde a atual crise de gestão político-pedagógica no CEP se materializa, entre outros fatos, pela violação de direitos ao trabalho e ao exercício da função educativa e didático-pedagógica, motivadas estritamente por perseguições político-ideológicas, caracterizando-se pelo afastamento arbitrário de professores de suas funções de docência em meio ao semestre letivo, demissão arbitrária de funcionários sem justa causa, além do inconcebível ato do emprego do aparato policial de repressão contra as manifestações políticas dos estudantes onde pelo menos um estudante, adolescente, foi algemado no interior do Colégio e preso em "camburão" de viatura policial que o levou para a Delegacia. Compreendem os professores signatários que a Pedagogia é a ciência que estuda a educação, que cultiva a ética e a democracia; que gestão político-pedagógica é a mediação em bases científicas das formas democráticas de socialização dos conhecimentos científicos e culturais. Com base nesse entendimento os signatários apelam para o bom senso das autoridades para que se estabeleçam as condições reais com pessoas que efetivamente possam garantir o diálogo para a superação da crise de gestão político-pedagógica no Colégio Estadual do Paraná e o processo democrático no Colégio como uma escola pública voltada para a formação cidadã, e ainda apelam pela democracia no CEP, onde orgulhosamente um grande número de alunos de graduação da UFPR são orientados por seus docentes em estágio de formação pedagógica.
Curitiba, 22 de Novembro de 2007.
Professores Dr. Gracialino da Silva Dias e Dra. Sônia Guariza Miranda.

Nota Pública da APP sobre Colégio Estadual do Paraná

A APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Paraná, vem, através desta NOTA PÚBLICA, esclarecer fatos e posicionar-se sobre os acontecimentos que vêm ocorrendo no Colégio Estadual do Paraná
Em diversos momentos, a pedido de muitos educadores e de forma sistemática como representantes da categoria, estivemos no Colégio Estadual. Conversamos com alunos/as, funcionários/as e professores/as, equipe pedagógica, ocupantes de cargos DAS e com a Direção Geral do CEP, Professora Maria Madselva F. Feiges para podermos avaliar a situação e só então nos pronunciarmos publicamente.
Em primeiro lugar, queremos reafirmar que reconhecemos amplamente os trabalhos realizados pela Professora Maria Madselva Feiges na sua carreira como educadora, no ensino básico e no ensino superior, nos encontros de formação com a APP-Sindicato e sua trajetória em defesa da Educação Pública. Não se deve, por questão ética, desconsiderar a história de uma pessoa mesmo quando discordamos dos seus encaminhamentos no exercício do poder.
O projeto pedagógico de uma escola tem que ser fruto de uma construção coletiva e com base numa disposição e numa prática incansável de diálogo, não podendo ser imposto, por melhores que sejam os projetos. Entendemos também que nenhuma discussão sobre qualidade de ensino poderá ser feita sem considerar na mesma medida as condições de trabalho em que este ensino se dá.
No entanto, dada a situação de conflito instalada no Colégio, o divisionismo que se produziu como resultado desse conflito e a impossibilidade de diálogo que se estabeleceu entre a direção e a grande maioria dos/as educadores/as, entendemos a necessidade de abertura para um novo processo de direção que restaure as condições efetivas para o trabalho com um esforço coletivo que supere os atritos, as disputas, as divergências para o bem de toda a comunidade escolar.
É necessário que a escola volte a funcionar plenamente, é necessário que os/as alunos/as retornem às salas de aula, é necessário que manifestações destrutivas e agressões cessem imediatamente. É necessário reconstruir as relações e a convivência nesse local de trabalho em outro patamar e sem a presença da polícia, sem sindicâncias, sem punições e processos administrativos.
A APP-Sindicato reafirma o diálogo como processo de permanente construção das relações democráticas na Escola e na Sociedade.
Essa NOTA PÚBLICA traduz o que já explicitamos, pessoalmente, no dia 12/11/2007, para a própria Professora Maria Madselva Feiges, para a Secretaria de Estado da Educação através do Diretor Geral Ricardo Bezerra e da Superintendente de Ensino Professora Yvelise Arcoverde, como decisão da diretoria da APP-Sindicato.Reafirmamos nossa luta histórica em defesa de eleições diretas para direções das Escolas como princípio fundamental para uma gestão democrática. Se a eleição por si só não garante a democratização da gestão, sem ela tampouco se pode construí-la. Além da eleição é necessário avançar no fortalecimentos das instâncias colegiadas: Conselho Escolar, Grêmio Estudantil e APMF.
A APP-Sindicato se solidariza com o sofrimento de cada um dos sujeitos envolvidos nesse processo, de um lado e de outro.
Temos que ter em mente que somos colegas de trabalho e que, passado o conflito, deveremos saber trabalhar lado a lado na importante tarefa de educar os/as adolescentes que são nossos/as alunos/as.
Nossa proposta para superar a situação atual, é que o Secretário de Estado da Educação nomeie imediatamente uma COORDENAÇÃO para dirigir o Colégio Estadual do Paraná e que organize em até 120 (cento e vinte) dias as Eleições Diretas. Já tramita na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei (PL) 825/07 que permite as Eleições Diretas no Colégio Estadual do Paraná.
Com o avanço da gestão democrática ganham todos e todas que lutam em defesa da Educação Pública.
“Escola é.../o lugar onde se faz amigos/ não se trata só de prédios, salas, quadros, /programas, horários, conceitos.../ Escola é, sobretudo, gente,/ gente que trabalha, que estuda, /que se alegra, se conhece, se estima./ O diretor é gente,/ O coordenador é gente, o professor é gente,/ o aluno é gente,/cada funcionário é gente.E a escola será cada vez melhor/ na medida em que cada um/ se comporte como colega, amigo, irmão. (...)” Paulo Freire
DIREÇÃO ESTADUAL DA APP-SINDICATO

Pronunciamento dos Pais

Nós, pais de alunos do Colégio Estadual do Paraná, diante de tudo que estamos vendo acontecer naquela renomada instituição de ensino, vimos registrar a nossa INDIGNAÇÃO e solicitar ajuda, uma vez que não estamos vendo nenhum interesse do poder público que dirige a Secretaria de Estado da Educação e o nosso estado em resolver o problema. Esta situação absurda poderia ter sido evitada, pois muitos de nós já vínhamos demonstrando nossa preocupação desde o início da gestão da profª Madselva, pois nossos filhos demonstram insegurança quanto às práticas pedagógicas implementadas pela atual diretora geral e, neste ano, não fomos chamados à escola, a não ser para ouvir uma aula da professora Madselva no auditório, num momento em que acreditávamos estar reunidos para ouvir e sermos ouvidos. Quando procuramos a escola pedindo solução para alguns problemas, não recebemos respostas concretas ou informações que nos tranqüilizem. Ficou muito evidente a falta de organização da escola. Algumas turmas, em algumas disciplinas tiveram 05 professores diferentes até agora. Professores substitutos não têm conseguido dar aulas com a qualidade dos substituídos. Quando um professor falta, a prática agora é adiantar aula. O professor que está dando aula em outra turma é solicitado a passar uma tarefa. Isso gera um prejuízo enorme para os nossos filhos, pois eles acabam ficando sem duas aulas no dia: a do professor que faltou e a do que adiantou a aula. Falta de clareza no sistema de avaliação, o sistema de recuperação, a falta de limites para nossos filhos em alguns momentos e a polícia em outros tem gerado uma preocupação muito grande. A redução do número de vagas para 2008, de 1200 para 320, para ingresso no 1º ano do Ensino Médio, deixa claro que alunos que estudam nas escolas públicas até a 8ª série, dificilmente conseguirão uma vaga no Colégio Estadual do Paraná. Não HÁ NENHUMA DEFESA DE EXTINÇÃO DOS CURSOS PROFISSIONALIZANTES, A LUTA É PELA MELHORIA DA INFRA-ESTRUTURA DOS CURSOS QUE JÁ EXISTEM(ver item 11 da carta denúncia). O afastamento de professores e funcionários comprometidos com o projeto político pedagógico que defendemos mostra a falta de democracia dentro da escola. Queremos deixar registrado o nosso respeito pelos professores e funcionários pela dignidade e coragem que tiveram de sair em defesa dos nossos filhos, apesar de saberem que sofreriam represálias. Lendo a nota de esclarecimento da Secretaria de Educação, ficamos perplexos, ao ler que a profª Madselva veio implantar uma série de medidas de aperfeiçoamento pedagógico. Que medidas são essas? Eliminação de privilégios? O único privilégio que ela parece ter eliminado foi o ambiente receptivo à presença dos pais e à harmonia necessária para que professores e funcionários comprometidos com um ensino de qualidade possam fazer seu trabalho. O livro de ponto não garante a presença do professor em sala. Profissionais sérios fazem seu trabalho independente de controle do ponto, que já era feito pelas inspetoras dos corredores. Muitos professores, funcionários e pais estão com MEDO. Como terminará este impasse? Como terminará o ano letivo dos nossos filhos? Isso é fazer política? A política não deveria tomar decisões que beneficiem a coletividade? A quem interessa a destruição da qualidade da educação no tradicional Colégio Estadual do Paraná?

Curitiba, 17 de novembro de 2007.

Carta às Famílias do Colégio Estadual do Paraná

Estamos atravessando uma crise profunda no Colégio Estadual do Paraná que nos obriga a tomar uma posição. Esta crise não vem de hoje e não está isolada daquilo que se passa para além dos muros do colégio. A intransigência daqueles que estão no poder e que, ironicamente, foram eleitos para representar a vontade da maioria é uma coisa bastante antiga na nossa tênue democracia. Mas não podemos, por isso, perder a esperança. Hannah Arendt, uma das principais pensadoras do século XX, que dedicou toda a sua vida à luta pela democracia, escreveu que “o milagre da liberdade está contido no fato de que cada homem é em si um novo começo, uma vez que, por meio do nascimento, veio ao mundo que existia antes dele e que vai continuar existindo depois dele”. Os alunos do Colégio Estadual do Paraná estão demonstrando na prática a verdade deste pensamento. Quando os mais velhos, professores e funcionários, já estavam ficando resignados com todos os desmandos da Direção Geral do Colégio Estadual do Paraná, foram os alunos que levantaram a cabeça, com muita dignidade, e disseram NÃO AO AUTORITARISMO. Com isso, ajudaram a resgatar a esperança quase perdida de muitos que já não viam mais nenhuma luz no final do túnel.
Este movimento contra o autoritarismo começou na terça-feira, dia 06/11, no turno da manhã, quando a profª Madselva fez a entrega de uma moto sorteada pela comissão de formatura. Os alunos começaram a fazer perguntas à diretora sobre os critérios do sorteio e aproveitaram o momento para perguntar-lhe outras coisas relativas à administração do colégio, tais como: critérios de avaliação e recuperação de estudos que têm barateado a qualidade da educação do CEP. A profª Madselva, diante de uma platéia de aproximadamente 1700 alunos, não respondeu às questões e ainda deu as costas aos estudantes que, daquele momento em diante, recusaram-se a entrar nas suas respectivas salas até que tivessem as respostas que tanto esperavam. Como suas indagações não foram respondidas, na quarta-feira, dia 07/11, deram prosseguimento aos protestos, agora com um novo propósito: FORA, MADSELVA. Nesse dia, professores e funcionários encheram o peito de coragem e somaram forças com os alunos que, afinal, estavam numa luta por democracia num ambiente em que predomina a intransigência, a intolerância e o pensamento único: estavam colocando em prática algumas das lições que aprenderam na teoria.
Desde que a profª Madselva assumiu a direção do colégio, no início deste ano, o Regimento Escolar vem sendo simplesmente desconsiderado. É como se não existisse um regimento, pois o que predomina é a vontade da Direção Geral. A escola pública tem por princípio a gestão democrática que está prevista na LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação) e na Constituição Federal. A gestão democrática, por sua vez, pressupõe o respeito do diretor, eleito ou não, a algumas instâncias deliberativas: Conselho Escolar, APMF e Grêmio Estudantil. Destas, a mais importante é o Conselho Escolar que é constituído por representantes de todos os segmentos da escola. Simplesmente não houve reuniões do Conselho Escolar do Colégio Estadual do Paraná, como instância consultiva e deliberativa, desde que a profª Madselva assumiu até o dia 24 de outubro (conforme carta assinada por membros Conselho Escolar anexada às 25 denúncias encaminhadas a SEED e ao Ministério Público). Quando houve convocação, foi apenas para referendar decisões tomadas pela Diretora Geral. Por sua vez, parte da APMF e do Grêmio Estudantil foram cooptados pela Direção Geral e já não representam o interesse da maioria. Exemplo disso foi que, enquanto os estudantes estavam protestando por democracia, o Presidente do GECEP estava participando de um programa na TV Paraná Educativa, chamado Fórum Social, defendendo a Direção Geral do Colégio Estadual do Paraná. Aliás, nesse “fórum” não havia nenhum tipo de pensamento divergente, ou seja, não havia ninguém que não estivesse lá apenas para defender a profª Madselva. Quanto ao papel da APMF, mesmo diante de toda a crise instalada, ainda não foi capaz de convocar uma reunião com os pais para esclarecer o que realmente está acontecendo, apesar de insistentes pedidos de alguns pais para que a reunião seja convocada. Houve uma convocação pela internet, postada no site colégio no dia 08/11, às 14h, para uma reunião que ocorreria no dia seguinte, às 8 h da manhã. Além do horário impróprio, inviável para a maioria dos pais, o meio de comunicação utilizado foi a internet, algo de que nem todas as famílias dispõem.
Os nossos estudantes estão dando uma verdadeira AULA DE CIDADANIA para a sociedade paranaense. Nós, como seus professores, ficamos muito orgulhosos daquilo que estamos presenciando. Mas temos pleno conhecimento de que, se eles são críticos, verdadeiros sujeitos históricos que não apenas vivem a história, como também a constroem conscientemente, esta responsabilidade não pode ser creditada apenas a nós, pois “o fruto não cai longe da árvore”. Esta capacidade crítica e toda a dignidade que estão demonstrando, temos certeza, eles aprenderam em casa. A educação começa em casa, continua na escola e não termina jamais. Ninguém deve se considerar velho demais para aprender algo de novo ou com os mais novos. Hoje são eles que ensinam aos mais velhos que é preciso resistir. O mundo vai continuar depois de nós e por isso temos uma grande responsabilidade por ele, por aquilo que será do mundo daqui a alguns anos. Quando alguém coloca um filho no mundo precisa ter muito clara esta responsabilidade. E temos certeza de que os pais destes filhos que hoje estão fazendo a história do Colégio Estadual do Paraná querem que o futuro deles seja num mundo mais justo, mais humano e mais fraterno.
Acreditando que todos queremos o melhor para nossos alunos e nossos filhos, convidamos a todos para uma REUNIÃO...APP(?)

sábado, 24 de novembro de 2007

Reportagem, "O estado do Paraná".

Reportagem, "O estado do Paraná".

Retirado do Jornal "O Estado do Paraná" do dia 24/11/2007.

ET CETERA [24/11/2007]

A semana termina hoje exatamente como começou para o titular da pasta da Educação: em crise. Maurício Requião, embora se julgue um político experiente e um grande negociador, está tomando um baile dos estudantes secundaristas do Colégio Estadual do Paraná (CEP). Beira o surreal! O irmão do governador, por incrível que pareça, ainda não conseguiu conter o motim adolescente engendrado pelos alunos da escola. A meninada, que há duas semanas força a deposição da atual diretora, Maria Madselva, também luta pela realização de eleições diretas para a função. A turminha do uniforme azul e branco está fazendo o “melhor secretário do País” sambar.

Alunos em vantagem

Por se tratar de um movimento estudantil que clama por democracia, a opinião pública nutre total simpatia pela causa. Aliás, é absurdo o fato de o Colégio Estadual ser o único do Paraná a não realizar a escolha da diretoria por pleito universal.

Entenda o porquê

Além da questão política, o que explica a relutância do governo em alterar as regras para a nomeação do diretor da escola é o fato de existirem 20 cargos em comissão dentro da instituição de ensino. Hoje, a Secretaria da Educação tem liberdade para indicar quem quiser.

Na parede

Ao perceberem que a administração está fragilizada por não conseguir resolver o impasse, os alunos saíram às ruas ontem para pedir a cabeça da diretora da escola. Aos gritos de “Fora Madselva!”, eles protestaram em frente à Assembléia Legislativa e, com ironia, ainda deram o recado ao ocupante do “Centro Administrativo Luiz Caron”.

As versões

Na guerra de versões dos dois lados, quem perde feio é o governo. Como Roberto Requião mantém uma postura autoritária e antidemocrática, sua indicada, Maria Madselva, padece da mesma imagem. Acusada de perseguir professores, ela hoje permanece no cargo por mera teimosia. Também ficou chato para o Estado o adiamento por tempo indeterminado da reunião que buscaria uma solução para a crise no Colégio Estadual. Sob o argumento de que os estudantes aderiram à baderna, o Estado fechou as portas para o diálogo. Nos bastidores, contudo, comenta-se que a direção aposta na ameaça de não liberar o histórico dos alunos do 3.º ano para tentar frear as manifestações. O jogo é pesado.

Negativas

A diretora Madselva contesta todas as acusações e diz que não persegue ninguém. Entretanto, sua tese soa frágil, visto que tem sido difícil encontrar alguém do corpo escolar que a defenda publicamente, exceção feita aos aliados e indicados do poder.

Em apuros

Vale frisar que o problema do Colégio Estadual é secundário para a vida de Maurício Requião. Reside no Ministério Público, em particular na Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, sua maior dor de cabeça. As investigações do órgão sobre a compra dos 22 mil televisores alaranjados em uma licitação suspeitíssima correm em altíssima velocidade. Conforme revelou uma fonte da coluna, trata-se de uma bomba.

Para pensar

A frase para reflexão deste sábado é de Adam Smith (1723-1790), considerado por muitos o mais importante teórico do liberalismo econômico: “O grande segredo da educação consiste em orientar a vaidade para os objetivos certos”.

Juventude protagonista e democratização da sociedade.

Juventude protagonista e democratização da sociedade.

A primeira vez que ouvi a palavra protagonista ser aplicada fora das telinhas do cinema foi na minha formação em Psicodrama, nos idos de 80. Com ele, o(a) protagonista colocava em ação a sua história, com o(a) outro(a) e para o(a) outro(a), num processo mútuo de aprendizagem, no encontro. Na mesma época, este termo, já tão familiar para mim, ganha destaque nas práticas pedagógicas e nas políticas propostas para a juventude por Antonio Carlos Gomes da Costa, que aposta na força transformadora do(a) jovem, cunhando a expressão “protagonismo juvenil”. Com ela mobiliza a juventude, dando-lhe o direito e o dever de ser construtora e autora “de sua história e da história de seu país”.

A origem disso, no entanto, deve-se às idéias e experiências de Roger Hart, um psicólogo americano que Antonio Carlos Gomes da Costa conheceu numa viagem à América Central. Suas idéias a respeito das crianças e adolescentes podem ser resumidas na seguinte citação: “A participação é um importante antídoto às práticas educativas tradicionais, que correm o risco de deixar a adolescência alienada e exposta à manipulação. Por meio de uma participação genuína em projetos que levem à solução de problemas verdadeiros, os jovens desenvolvem capacidades que são essenciais para autodeterminação de suas opções políticas. O benefício é duplo: a autodeterminação do jovem e a democratização da sociedade”.

É sobre isso que quero refletir, a partir de dois fatos importantes para a educação de nossa cidade. O primeiro, protagonizado por estudantes da Universidade Federal do Paraná, numa ação polêmica de mobilização contrária ao REUNI, plano de reestruturação das universidades brasileiras e, o segundo, protagonizado por estudantes do ensino médio do Colégio Estadual do Paraná, exigindo a saída da interventora e solicitando o direito de escolher, através do voto, quem deve dirigir a escola.

No primeiro, mesmo sendo contrária á ocupação como método de luta, reconheço a importância do movimento, necessário onde o diálogo é mascarado em relações desiguais de poder. Muitos(as) professores(as), pesquisadores(as), funcionários(as) e estudantes viram frustradas suas expectativas de discutir e votar a adesão a esse modelo que, em nome da ampliação de vagas e disponibilização de verbas, de forma irresponsável e equivocada, vulgariza e coloca em risco a qualidade dos(as) profissionais que serão formados(as). É o modelo tão questionado da aprovação em massa do ensino fundamental que se estende ao ensino superior, que passa à obrigatoriedade de 90% de aprovação, em troca de 20% a mais de recursos onde tudo falta.

Esgotadas as possibilidades éticas apontadas pelos(as) trabalhadores(as) federais do ensino superior frente ao REUNI, sobraram aos(às) estudantes, e somente eles(as) poderiam ir mais além, chamar a atenção para o caos que se instala nas universidades brasileiras e para a estrutura hierarquizada da instituição, cuja representação estudantil é sempre minoria e poucas vezes se faça ouvir, embora tenha vez e voz em todas as instâncias. Importante lembrar que a atual gestão para a reitoria foi eleita sem a maioria dos votos dos(as) estudantes. Vencidos na causa, mas vencedores na “sua trajetória biográfica com o mundo adulto” por uma educação e formação de qualidade, sem propinas oficializadas.

Mas, bonito de se ver, embora com tristeza no coração, é a ação organizada e corajosa dos(as) estudantes do Colégio Estadual do Paraná em prol do sepultamento, de uma vez por todas, dos ranços do modelo militar autoritário que impunha, como líder, em todas as instâncias, quem não consegue ser liderança. Independente da qualidade da gestão a que se propõe, quem se submete a exercer tal função em nome do poder, não o faz em nome da democracia. A direção de uma escola deve estar a serviço do pedagógico e não se sobrepondo a ele. A direção é para os(as) estudantes, professores(as), funcionários(as), pais e mães, pedagogos(as) e comunidade. Quem dirige para o secretário ou governador é interventor (tem sido assim nos últimos anos). Cabe lembrar que a atual interventora nem ao menos pertence ao quadro próprio do magistério do estado.

A escola existe em função de e para os(as) estudantes. A direção, os(as) professores(as), os(as) técnicos(as) administrativos e demais profissionais da educação estão a serviço da aprendizagem dos estudantes. E quando estudantes e educadores(as) se unem em prol de uma causa, muito pouco de engano há por aí. E assim o protagonismo se dá, contribuindo para “o desenvolvimento do senso de identidade, da auto-estima, do autoconceito, da autoconfiança, da visão de futuro, do nível de aspiração vital, do projeto e do sentido de vida, da autodeterminação, da auto-realização e da busca de plenitude humana por parte dos jovens”.

Destaco também o protagonismo corajoso da estudante que, sozinha sobre o muro, enquanto os(as) demais estudantes davam o “abraço” na escola, com um simples cartaz pedia para a “diretora” ficar.

É preciso que o mundo adulto compreenda e acolha essas atitudes, acompanhando, orientando e ajudando a juventude a construir a sua autonomia em situações construtivas e solidárias na solução de problemas que lhes são reais. Chamar a polícia, penalizar seus adultos de referência, exonerar trabalhadores(as) que se posicionam em lados diferentes, chamar os(as) estudantes de moleques e outros termos que os desqualificam são atos covardes e autoritários, reforçando o paradigma de violência que impõe a força sobre o diálogo.

Cèlestin Freinet, educador francês do início do século passado, dentre seus Invariantes Pedagógicos apontava como primeiros: “ser maior não significa ser necessariamente melhor” e que “as crianças, assim como os adultos, não gostam de ser mandados”.

Paulo Freire, em sua obra “Pedagogia da autonomia”(1996), entre tantas dádivas afirma que ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, exige tomada consciente de decisões, saber escutar, reconhecer que a educação é ideológica, disponibilidade para o diálogo e, principalmente, exige querer bem aos educandos. Que os fatos nos apontem esperança. Juventude é presente e futuro. De cara pintada ou com nariz de palhaço, vão sinalizando como podemos democratizar a sociedade.

Araci Asinelli da Luz
Doutora em Educação.Professora do Setor de Educação da UFPR

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O que está em jogo no Colégio Estadual do Paraná

O que está em jogo no Colégio Estadual do Paraná


“Querer fazer a revolução em um campo é concordar com o essencial do que é tacitamente exigido por esse campo, a saber, que ele é importante, que o que está em jogo aí é tão importante a ponto de se desejar aí fazer a revolução” (Pierre Bourdieu, É possível um ato desinteressado?). Diante do caos instalado no Colégio Estadual do Paraná, temos diversos interesses em jogo. Existe uma disputa bastante clara entre dois lados em evidente oposição. Mas não se trata de um maniqueísmo, de uma “guerra entre o bem e o mal”, como pretende demonstrar o lado que apóia a profª Madselva, que possui o respaldo de todo o aparato do Estado: Secretaria de Estado da Educação, Conselho Estadual de Educação, TV Cultura e agora, surpreendentemente, também o Ministério Público. O outro lado, denominado “alguns” estudantes, professores funcionários e pais, hoje representa a maioria absoluta da comunidade escolar. Ele não é nem elitista e muito menos o “lado escuro da força”: simplesmente está lutando por democracia num ambiente onde atualmente predomina o autoritarismo de um grupo que governa o Colégio Estadual do Paraná como se fosse uma oligarquia. Projeto Elitista X Projeto Progressista Segundo o discurso do prof. Romeu Miranda, presidente do Conselho Estadual de Educação, no programa Fórum Social da TV Cultura (22/11/2007), o que está em jogo é um projeto de escola progressista, voltado para as classes trabalhadoras, que está sendo implantado pela profª Madselva, que se opõe ao projeto de escola elitista atualmente em vigor no Colégio Estadual do Paraná. Para quem não sabe, o principal responsável pela implantação deste projeto denominado “elitista” foi o próprio prof. Romeu que esteve no comando pedagógico do CEP do início de 2003 ao final de 2005. É, no mínimo, curioso que este professor, hoje na cadeira de Presidente do Conselho Estadual de Educação, indicado pelo Governador do Estado, tenha mudado tão radicalmente a sua opinião sobre qual concepção de educação deve nortear o Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual do Paraná. Todo mundo tem o direito de mudar o seu ponto de vista, mas o que não podemos fazer é fugir das nossas próprias responsabilidades. Que exemplo daremos às nossas “crianças”?

Sobre o controle de freqüência dos professores A profª Madselva afirmou, entre outras coisas, que alguns integrantes do corpo docente estão revoltados porque ela agora está exigindo a presença dos professores. Para isso, ela introduziu um controle através do livro ponto, algo que não existia no Colégio Estadual do Paraná. É importante esclarecer que sempre houve um acompanhamento rigoroso da freqüência dos professores que, antes da mudança, era feito através dos diários de classe que ficavam sob a responsabilidade das inspetoras de corredor. Quando havia falta ou atraso de algum professor, as inspetoras registravam e encaminhavam para a Direção Auxiliar para as providências cabíveis junto ao departamento de recursos humanos (GARH) do CEP. Não só havia controle, como ele era ainda mais eficiente, pois quando a soma dos atrasos registrados chegava a 50 minutos, era atribuída uma falta em uma aula para o professor, desde que não houvesse justificativas legais. O argumento da professora Madselva para justificar a mudança, aceito por todos os professores, era de que trata-se de uma questão legal para a segurança funcional do próprio professor. Da maneira como a profª Madselva fala à imprensa sobre a mudança, dá a entender que os professores do Colégio Estadual do Paraná são irresponsáveis a ponto de não cumprirem, sequer, uma das obrigações funcionais mais básicas que é o horário. É mais fácil dizer isso do que assumir que os professores não estão simplesmente revoltados, mas decepcionados porque as mudanças que esperavam da profª Madselva eram no direcionamento pedagógico da escola: esperavam que ela viesse para qualificar o Projeto Político Pedagógico, algo que até o presente momento continua na mesma situação que estava antes da sua chegada.TV Paraná Educativa ou aparelho ideológico do Estado? No programa denominado Fórum Social da TV Paraná Educativa esteve presente todo o aparato de defesa da profª Madselva, mas não havia ninguém falando em nome da oposição. A palavra fórum, no sentido que o referido programa pretende empreender, significa, conforme o dicionário Houaiss, “reunião, congresso, conferência que envolve debate de um tema”. Todo mundo sabe que para haver debate é preciso que existam pelo menos duas posições opostas. Não foi isto o que aconteceu. Por outro lado, alguns dos demais meios de comunicação, chamados constantemente por este governo de “imprensa marrom”, têm dado uma aula de jornalismo na nossa, outrora, exemplar televisão pública, permitindo, pelo menos, o direito de resposta aos lados opostos do jogo. As “crianças” que lideram o movimento dos estudantes poderiam muito bem exemplificar este paradoxo grotesco com a famosa canção infantil: “A cobra não tem pés... A cobra não tem mãos... Como é que a cobra sobe no pé de limão?”

Prof. Wanderley José Deina
Mestre e doutorando em Educação pela USP


Este e outros textos do prof. wanderley estão postados em http://profwanderley.blogspot.com/

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Resultado da reunião com Secretario de educação!

Hoje, 22/11 não houve a reunião com o secretário, depois de 50 minutos de espera um assessor do secretário nos informou que não haveria reunião, demonstrando a falta de respeito com os alunos e professores do CEP. Porém, houve uma reunião em particular com a Madselva e secretários. Segundo eles, o motivo do adiamento da reunião foi devido as manifestações que ocorreram durante o turno da manhã. A próxima reunião foi adiada para segunda-feira, e nem se quer nos informaram o horário.

Amanhã estaremos fazendo outra manifestação desde o início das aulas! Pedimos a todos os alunos que convidem e informem seus pais das manifestações. Quanto mais gente melhor
! Contamos com a sua presença!

Segundo alunos presentes na reunião o adiamento foi apenas mais uma estratégia para a desmotivar nosso movimento!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Reportagens

RPC

http://tvparanaense.rpc.com.br/player.php?Video_ID=16430&fesp=&pid=5&pc=colégio&fe=&descr=O+Secret%E1rio+de+Educa%E7%E3o+se+reuniu+hoje+cedo+com+alunos+e+professores+do+Col%E9gio+Estadual&titulo=&programa=Paran%E1+TV+1%AA+Edi%E7%E3o&autostart=1

http://tvparanaense.rpc.com.br/index.phtml?Video_ID=16450&autostart=1&pid=7

http://tvparanaense.rpc.com.br/index.phtml?fe=&pid=&dt=07%2F11&pc=col%E9gio

http://tvparanaense.rpc.com.br/index.phtml?fe=&pid=&dt=08%2F11&pc=col%E9gio&x=4&y=9

Bem Paraná Info

http://www.jornaldoestado.com.br/index.php?VjFSQ1VtUXlWa1pqU0ZKUFVrZDRVRlZyWkdwTlJsSnlWVzF3YVZadVFsWlVWVkpIVkd4V1ZVMUVhejA9

Gazeta do Povo

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?tl=1&id=711465&tit=Diretora-diz-que-nao-deixa-o-cargo-aulas-serao-retomadas-sob-clima-de-tensao

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?tl=1&id=711399&tit=Alunos-do-CEP-usam-dia-de-suspensao-para-fazer-novo-protesto

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?tl=1&id=711136&tit=Protesto-por-voto-direto-termina-com-dois-estudantes-apreendidos-no-Colegio-Estadual

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?tl=1&id=711412&tit=Secretaria-da-Educacao-divulga-nota-sobre-protestos-no-CEP

Secretaria da Segurança publica do Paraná:

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?tl=1&id=711434&tit=Secretaria-da-Seguranca-divulga-nota-dizendo-que-alunos-tentaram-agredir-policiais

Globo

http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL173434-5604,00-PROTESTO+EM+COLEGIO+TERMINA+COM+DOIS+ALUNOS+DETIDOS.html



Videos com a ação policial podem ser encontrados em:

- http://br.youtube.com/watch?v=GRMelmId32k e
- http://br.youtube.com/watch?v=MvZDzmSGIa8

Mais vídeos da manifestação e que também provam que ela foi pacifica podem ser encontrados em:

- http://www.youtube.com/watch?v=cW6ysIt8Nto
- http://www.youtube.com/watch?v=c4LKh-vr2Jk

Carta apresentada por alunos e professores com 25 pontos contra a Madselva.

Nós, professores, pedagogos, funcionários, pais e alunos do Colégio Estadual do Paraná, vimos através deste documento DENUNCIAR as práticas ANTIDEMOCRÁTICAS da atual Diretora Geral, Profª. Maria Madselva Ferreira Feiges. Desde que assumiu a Direção Geral do Colégio Estadual do Paraná, em fevereiro do corrente ano, a Direção Geral vem tomando decisões unilaterais, desconsiderando a voz de professores, funcionários e alunos, desestabilizando por completo o ambiente de trabalho. Uma instituição que tem uma história de 161 anos, sendo o mais antigo estabelecimento de ensino de nosso estado, não pode ter sua tradição destruída pela vontade exclusiva de uma única pessoa.

Vivemos em uma sociedade democrática que possui princípios sólidos fixados pela Constituição Federal de 1988. Estes princípios nos garantem alguns direitos básicos que estão sendo simplesmente desconsiderados pela atual Diretora Geral. A Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB 9.394/96) em seu Art 3º, estabelece os princípios sobre os quais o ensino deve ser ministrado. Destacamos aqui alguns dos incisos que parecem simplesmente não existir na prática administrativa da Profª. Maria Madselva Ferreira Feiges:

III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
VII – valorização do profissional da educação escolar;
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino;
XV – garantia de padrão de qualidade;

Fatos:

1. Ainda em fevereiro do ano corrente, logo que assumiu a Direção Geral da escola, a Profª Madselva requisitou junto ao Núcleo de Educação de Curitiba os processos de alunos reprovados, que já haviam sido reavaliados pelos professores em Conselho de Classe Extraordinário, tendo sido mantida a reprovação. Houve convocação de novo Conselho de Classe e, na ocasião, a Diretora Geral intimidou os professores, dizendo que “se os professores não aprovassem, o Ministério Público aprovaria”. Apesar dos protestos dos professores, todos os processos foram revistos, tendo como resultado a aprovação da maioria. A maior parte dos alunos que não foram aprovados pelo 2 Conselho de Classe Extraordinário Especial o foram posteriormente por ato administrativo da Direção Geral. Diante disso, muitos estudantes coerentemente comprometidos se sentiram injustiçados ao tomar conhecimento de que colegas os quais, no ano anterior, não tinham nenhum comprometimento com o aprendizado, alguns reprovados em até sete disciplinas, haviam sido aprovados.

Esta situação abriu um precedente que levou muitos outros alunos reprovados a entrar também com processo junto ao Núcleo de Educação de Curitiba, pedindo novo Conselho de Classe. Até a metade do ano ainda havia alunos sendo aprovados de uma série para outra, agora não mais com a legitimação dos professores, mas por Ato Administrativo da Diretora Geral Maria Madselva Ferreira Feiges. Devido a isso, o Relatório Final do ano letivo de 2006, que deveria estar concluído em 60 (sessenta) dias, ou seja, até março de 2007, ainda não foi concluído, encontra-se tramitando no Núcleo Regional de Educação.

2. Diante da decisão de aprovar por ato administrativo, os professores sentiram-se
cada vez mais desvalorizados no seu trabalho, pois, apesar de todo o cuidado, de toda a ética profissional ao decidirem em Conselho de Classe pela reprovação de
alunos que não teriam condições de acompanhar com qualidade os conteúdos da
série seguinte, viram o seu trabalho docente desqualificado pelas decisões da
Diretora Geral e da Chefe da Divisão Educacional, Sandra T. B. Lima. Além disso, criou-se, entre os alunos mais imaturos, uma mentalidade de que não há mais necessidade de estudar e participar das aulas como antes, pois serão aprovados no final do ano letivo. Muitos professores comprometidos com a educação pública de qualidade têm manifestado o desejo de participar do concurso de remoção no final do ano.

3. Mesmo fazendo o melhor possível pela escola, professores e funcionários são constantemente constrangidos pela Diretora Geral Maria Madselva Ferreira Feiges. Cenas de assédio moral da Diretora Geral contra professores e funcionários têm sido cada vez mais freqüentes. A Profª. Madselva não tem nenhum constrangimento em desqualificar profissionalmente professores e funcionários, estando eles presentes ou não nos ambientes onde isso ocorre.


4. No ambiente de trabalho docente, predomina o sentimento de desmotivação,
pois, na concepção da Profª Maria Madselva Ferreira Feiges, pela maneira com que se refere e se dirige aos educadores do CEP, nenhum professor sabe ensinar ou avaliar corretamente, apesar de todos possuírem formação adequada (muitos, aliás, foram alunos da própria Profª Madselva na UFPR) e terem conquistado por concurso público o direito de lecionar no Colégio Estadual do Paraná.

5. Muitos alunos, percebendo que estudando ou não estudando é possível ser aprovado por processo protocolado no Núcleo ou Secretaria de Educação, passaram a ter atitudes de indisciplina, desrespeitando os professores e funcionários da escola, afrontando os princípios do Regimento Escolar, bem como os da boa educação, das regras básicas de convivência, comprometendo drasticamente a qualidade do seu ensino e dos demais colegas.

6. A excessiva permissividade da Diretora Geral em relação a limites proporcionou
também o aumento da indisciplina entre os alunos. Logo que chegou à escola, a diretora Madselva, contrariando a vontade geral de professores, funcionários e alunos, manifestada publicamente diversas vezes, retirou metade das funcionárias que trabalhavam como inspetoras de corredor, deslocando-as para trabalhar na parte de limpeza. Alunos passaram a interromper, pelos motivos mais banais, a aula de outras turmas. Tornou-se freqüente a presença de alunos nos corredores, alunos sem uniforme, o estouro de bombas e o número de pichações nos banheiros e em outros locais da escola se multiplicou.

7. Numa situação específica, em que uma sala de aula foi toda depredada, a Diretora Madselva insinuou terem sido as inspetoras de corredor, descontentes por sua transferência para a limpeza, as responsáveis por tal ato. O desconforto entre professores e funcionários foi muito grande, principalmente entre as auxiliares de serviços gerais que se sentiram umilhadas em sua dignidade diante da desconfiança da Direção Geral da Escola.

8. A centralização excessiva de poder nas mãos de uma pessoa sem experiência na
direção de escola, sobretudo uma escola do porte do Colégio Estadual do
Paraná, levou a uma desorganização generalizada em praticamente todos os
setores da instituição. A escola ainda não entrou em colapso devido à seriedade e
ao forte compromisso da maioria dos professores e funcionários com a
instituição pública.

9. A Direção Geral decidiu unilateralmente reduzir para menos da metade o
número de vagas oferecidas para novos alunos do Ensino Médio no ano letivo de
2008. Isso já está, inclusive, anunciado na página do colégio na internet (cópia
anexa). Não houve nenhuma explicação da parte da Direção Geral à comunidade
escolar sobre os motivos para esta mudança.

10. O objetivo é transformar o Colégio Estadual do Paraná em um centro de
formação técnica. Tal objetivo pode até ter um fundamento razoável, porém,
para esta mudança ser legítima, precisa ser discutida e deliberada pela
coletividade, por toda a comunidade escolar, ou seja, por professores,
funcionários, alunos, pais e representantes de outros segmentos da sociedade
curitibana, ligados ao colégio.

11. Os cursos técnicos oferecidos atualmente pelo Colégio Estadual do Paraná estão
muito aquém das exigências mínimas de qualidade de formação profissional.
Pela falta de infra-estrutura adequada, o índice de desistências nestes cursos,
principalmente os integrados, supera 70%. Com que estrutura a Diretora
Madselva e a Chefe da Divisão Educacional, Profª. Sandra, pretendem oferecer
estes cursos? Quais cursos seriam?

12. Decisões tomadas seguindo o princípio da gestão democrática em reuniões de
coordenadores de área ou coletivas, com todo o corpo de professores e
funcionários, são frequentemente modificadas pela Direção Geral e pela Chefe
da Divisão Educacional Sandra T. Bizusko Lima e comunicadas aos
coordenadores e professores.

13. Muitas decisões tomadas unilateralmente pela Diretora Geral e pela Chefe da
Divisão Educacional são comunicadas diretamente aos alunos, deixando
professores e funcionários à margem. São inúmeros os relatos de decisões
relacionadas ao pedagógico que chegaram ao conhecimento dos professores e
coordenadores através dos alunos ou pelo site da escola.

14. Têm acontecido mudanças constantes no direcionamento pedagógico da escola,
sem nenhuma explicação da parte da Direção Geral e da Divisão Educacional,
acarretando desorganização que gera sobrecarga de trabalho a professores e
funcionários, principalmente os técnicos e os coordenadores de disciplina que
praticamente não têm mais nenhuma voz ativa frente aos desmandos da Diretora
Geral e da Chefe da Divisão Educacional.

15. Apenas no dia 26 de outubro os coordenadores receberam a lista com a relação
dos alunos que necessitam fazer adaptação de disciplinas em seu currículo e a
relação dos alunos com dependência. Houve uma mudança na grade curricular e
todos os alunos de 3º ano (mais de oitocentos) deveriam ter feito adaptação em
Artes. Segundo a legislação, estes alunos deveriam cursar a disciplina durante o
ano letivo. A secretaria enviou o levantamento para a Chefe da Divisão
Educacional em junho deste ano. Simplesmente não há mais tempo hábil para
que possa ser feito um trabalho sério, de qualidade com os estudantes, muitos
dos quais formandos de terceiro ano.

16. O projeto de recuperação de estudos proposto pela Chefe da Divisão
Educacional, com o aval da Direção Geral, contraria o artigo 24, inciso V, alínea
A do Capítulo II, seção I da lei 9394/96.

17. Os conselhos de classe, para discutir os problemas específicos das turmas e
possíveis soluções comuns, perderam espaço na escola. Pode-se dizer que com a
chegada da Profª. Maria Madselva Ferreira Feiges e da Chefe da Divisão
Educacional Profª. Sandra ao Colégio Estadual do Paraná o Conselho de Classe,
um dos mais significativos momentos para a discussão e avaliação coletiva dos
problemas das turmas, não aconteceu no 1º trimestre. Houve uma reunião geral,
em que se relacionaram alguns problemas genéricos de cada turno, com trinta
minutos, no final, para discussão de alguns tópicos apresentados pela própria
Direção Geral. O segundo trimestre, encerrado dia 05 de setembro do corrente
ano, ainda não teve concluído o Conselho de Classe. Houve alteração no
calendário previamente divulgado e todos os professores da escola foram
convocados para o Conselho de Classe no turno da noite. Os coordenadores de
disciplinas foram convocados na noite anterior, por telefone, e responsabilizados
pelo comparecimento dos demais professores de suas respectivas áreas.

18. A “nova configuração da semana cultural”, proposta pela Chefe da Divisão
Educacional e aprovada pela Diretora Geral, prevista em calendário escolar para
o mês de agosto, mas realizada somente em outubro, foi um grande fracasso
pedagógico. Diante da falta de estímulo, por conta da situação de terror que a
escola vive neste momento, os alunos simplesmente não aderiram ao projeto, tornando a semana vazia de público e de conteúdo. A falta de organização e de
um projeto sério, atrelado a uma avaliação com peso nas notas dos alunos, foi
outro fator que desmotivou os estudantes que, na sua imensa maioria, foram à
escola apenas para responder chamada.

19. Os professores que têm emitido publicamente posições políticas e pedagógicas
divergentes daquela que defende a Profª. Maria Madselva Ferreira Feiges e a
Profª Sandra T. B. Lima, ou simplesmente os que fazem críticas irrefutáveis às
mudanças instituídas pela Diretora Geral e pela Chefe da Divisão Educacional
estão sendo perseguidos através de ameaças, ou mesmo, de processos
administrativos com acusações absolutamente antidemocráticas, tais como, “ser
contra as políticas públicas paranaenses para a educação”.

20. Alguns funcionários se sentiram coagidos com a convocação para trabalhar, fora
de seu horário e sem o registro no relógio ponto, no Fórum das Águas.

21. Em 25/10/2007, houve um contrato de trabalho com alguns funcionários para
um evento da Associação dos Servidores do CEP, da qual, é importante
ressaltar, os atuais servidores encontram inúmeros empecilhos para participar,
em que foi combinado o valor de R$ 60,00 e que depois do serviço prestado, foi
apresentado um novo contrato no valor de R$ 30,00.

22. O Conselho Escolar não se reuniu oficialmente uma única vez durante este ano,
mas os conselheiros foram chamados a sala da Direção Geral, em algumas
situações específicas, apenas para assinar documentos legitimando decisões
unilaterais praticadas pela Profª. Maria Madselva Ferreira Feiges.

23. A área de Língua Portuguesa, há nove anos, trabalha com o projeto Sedução
Poética, que envolve todos os alunos da escola na produção e declamação de
poemas. O projeto tem início em fevereiro, com o estudo e seleção de poemas
para declamação em agosto. Em junho, há inscrições de poemas produzidos
pelos alunos, professores e funcionários para a seleção daqueles que serão
publicados em outubro, mês de culminância do Sedução Poética, com
lançamento do livro. Todo ano, a verba para edição do livro é reservada no
orçamento do Colégio. No início do ano, a pessoa responsável pelo Financeiro
ratificou para a Coordenação de Língua Portuguesa que a verba destinada à
publicação do livro já estava reservada. Porém, ao descobrir que no livro deste
ano seria publicado um poema produzido por um professor que fazia críticas a
Direção Geral da escola, a publicação foi suspensa pela Direção Geral que
alegou não haver mais verba para isso.

24. No final do primeiro semestre, a Direção Geral ofereceu um churrasco que, num
primeiro momento, seria apenas para os funcionários dos setores técnicos e de
serviços gerais, mas que, devido a pouca adesão, foi estendido também aos
professores. Para financiá-lo, a Direção Geral pressionou todos os funcionários
com cargos comissionados a contribuir com o valor de R$ 50,00.

25. O discurso da Direção Geral e da Divisão Educacional é o de que “quem não
está contente com a escola pode procurar outra”, algo semelhante ao slogan da
Ditadura Militar “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Excelentíssimo Secretário de Estado da Educação, solicitamos que sejam
tomadas providências imediatas para que o Colégio Estadual do Paraná volte a ser
um ambiente harmonioso, cujo maior objetivo seja a oferta de um ensino de
qualidade, onde todas as pessoas da comunidade, corpo docente e discente,
funcionários do quadro técnico e dos serviços gerais, possam trabalhar e conviver na
prática a coerência de alguns discursos excessivamente citados, mas ostensivamente
ignorados na atualidade pela Diretora Geral Maria Madselva Ferreira Feiges e pela
Chefe da Divisão Educacional Sandra T. Bizusko Lima.

Acreditamos que a solução para os problemas de gestão que o Colégio
Estadual do Paraná vem enfrentado nos últimos anos seja a escolha democrática do
Diretor Geral, bem como, da equipe de direção por eleição na Comunidade Escolar.
O corpo docente da escola é composto por profissionais qualificados, plenamente
comprometidos com a educação pública de qualidade e identificados com a cultura
do Colégio Estadual do Paraná. Todos nós desejamos que a escola cumpra com
êxito sua função social: que estudantes, funcionários, professores e pais do CEP
sejam capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais humana, mais
justa e mais solidária. Acreditamos ser este o verdadeiro espírito e o sentido da
democrática.

Curitiba, 30 de outubro de 2007.