sexta-feira, 24 de julho de 2009

Escola de papel

Enquanto se discute a crise dos poderes constitucionais, seja o judiciário e sua lentidão quanto a dar respostas mais rápidas aos direitos de quem os pleiteia, seja o executivo e sua eterna morosidade em fazer cumprir os direitos da carta magna, seja no combate à corrupção, ao nepotismo, à distribuição de cargos para apaziguamento político, ou troca de favores, seja no momento atual a “crise” do Senado e seus atos secretos, distribuição de cargos sem concurso, salas secretas, contas secretas, bens não declarados, decisões secretas (artifícios das ditaduras ou de governos de exceção), medidas provisórias (atos de governos fascistas), limitação de permanência (no caso da restrição do horário para menores) como a pseudoproposta de combate à violência (proposta de governos autoritários, pois só em casos muito restritos é que se admite tal restrição, como, por exemplo, no “estado de sítio”)... Enquanto tudo isso acontece, a crise educacional, que deveria ser a pauta do dia, acaba sendo maquiada por propostas que não são para resolver o problema ou começar a resolvê-lo, mas para dizer que neste ou naquele governo os índices melhoraram, em propostas de efeito duvidoso, como, por exemplo, o Centro de Formação Nacional de professores, o incentivo às Universidades Virtuais, aos cursos virtuais, aos alunos virtuais, aos professores virtuais, onde só não é virtual a exploração, a violência, a miséria a corrupção os privilégios os descasos com a saúde, a morte lenta nos ambulatórios, o descaso com a educação, a violência no campo, a falta de emprego, a falta de moradias decentes e redes de esgoto, as estradas esburacadas, a falta de decência de alguns governantes.

Enquanto isso, no Colégio Estadual do Paraná parece que a pedagogia caminha em outro caminho e, é bem possível, num mundo paralelo de realidade também paralela. Nas aulas da academia apreende-se que a pedagogia é um olhar sobre a educação e seu espaço de formação -a escola-, apreende-se que várias concepções de escolas (pedagogia pragmática, libertadora, tecnicista, até os discursos mais modernos da pedagogia da história crítica, marxista) ao longo do tempo histórico foram sendo criadas, superadas, criticadas, firmando-se como um saber de extrema importância para a compreensão do espaço escolar e seus problemas. Mas, no CEP, a pedagogia parece que desaprendeu a pensar os grandes problemas educacionais, preocupa-se mais em vistoriar livros, ler memorandos, assinar informes, infantilizar os processos de avaliação e aprendizagem, verificar a caligrafia, a cor da tinta utilizada nos livros, a data errada, aulas dadas e aulas previstas, simplificando a sua função em mera assistência burocrática, em que o mais importante é o livro jurássico cultuado como se fosse um Deus, que deve ser perfeito porque devemos pensar no futuro contra os processos que virão (fica aqui a sugestão do filme “Minority Report” que, sem dúvida, ajudará a olhar estes problemas sobre outro aspecto).

A pedagogia poderia estar levantando sua voz contra as ações não-pedagógicas, como a vigilância desmedida, a falta de espaços democráticos; poderia, por exemplo, montar um painel no pátio central, onde todos pudessem se manifestar livremente, poderia apreender com os fatos da “Primavera do CEP de 2007”, poderia ajudar a diminuir a burocracia, propor um livro mais moderno, combater o eterno retorno do Taylorismo e do Fordismo na educação, propor uma escola de muros baixos, onde a comunidade participasse e estivesse representada, poderia estar lutando para que as eleições democráticas fossem estabelecidas efetivamente no CEP, lutando contra o desmantelamento de algumas salas de coordenação e a pela volta de eleições para o coordenador, diminuindo as decisões verticais e defendendo a ampliação das decisões horizontais, lutando contra o uso absurdo do processo como garantia de calar vozes (é sempre bom lembrar Norberto Bobbio, para quem uma Democracia não se faz cortando cabeças e sim contando cabeças).

Infelizmente, a pedagogia do CEP fica contando dias lançados nos livros, tinta azul escura ou mais clara, observando caligrafia... E, antes que os acólitos bravejem, manter o livro atualizado é necessário, mas torná-lo sagrado é desnecessário. Parece que tanto se combateu a pedagogia tecnicista e o que se constata, no caso do CEP, é que ela foi incorporando o que antes combatia. Como no livro “Farm Animal”, não se sabe onde começa o discurso e a prática inovadora e onde termina a prática e o discurso tecnicista conservador.

Rubens Tavares, Professor História do Colégio Estadual do Paraná.